quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Aqui neste lugar onde fui feliz

Estou um pouco mais longe do lugar onde costumo estar. Hoje tive vontade de vir para aqui. Aqui estou só. Só, mas ainda consigo ouvir o barulho que o jogo produz, enquanto está a ser jogado no quarto por baixo de mim. Estou na minha “torre”. No meu lugar. Lugar este onde ninguém vem. Lugar onde está tudo em “ruínas”, onde só eu consigo habitar. Lugar, que apesar de todos dizerem que não, vai ser sempre o meu mundo. Estou deitada no chão com a cabeça apoiada num velho colchão onde eu costumava dormir a sesta quando era mais nova. Oh memórias. Recordo as memórias que tenho deste lugar. Recordo as brincadeiras, os risos… todas as coisas que me lembrem o quanto era bom ser pequenina. Recordo também a maneira de como a avó me chamava para almoçar e a maneira como eu lhe pedia para me deixar ficar a brincar, porque aqui sim, aqui eu fui feliz. Estou agora no meio dos meus antigos brinquedos. Como era bom brincar com eles, inventar todas aquelas histórias, histórias como as que se liam nos livros. Livros que começam com «Era uma vez…» e que acabam com «E foram felizes para sempre.». Lembro-me das princesas serem felizes, lá a viver nos seus castelos. Eu queria tanto ser como elas. Agora sei que eram só histórias, mas antes, era tudo tão real. Estou a tentar que as memórias fiquem, por isso penso em tudo uma e outra vez. Encontrei o meu antigo cavalo de baloiço. Bons os momentos que passei a andar nele. Sempre gostei de cavalos. Lembro-me de ter uma égua. Lembro-me de ir montar para a serra com o meu pai. Mas um dia tudo isso se perdeu. Eu cresci e o meu pai vendeu os cavalos. Recordo o momento em que vi o cavalo mais novo nascer. Estava um dia lindo, e o cavalo nasceu no meio de um eclipse. Esse momento sei que não vou esquecer. Ainda assim, tenho medo. Estou completamente perdida aqui. Perdida no meio de álbuns de fotografias antigas. Fotografias de quando eu era pequena. Recordo todos os momentos fotografados na perfeição. Sei que não quero perder momento nenhum, mas tenho medo que o tempo passe depressa demais. Medo de não estar a viver tudo o que poderia estar a viver.
Estou a chorar. Não sei se sou capaz de aguentar tantas memórias e recordações em tão poucos minutos. Não quero crescer. Queria voltar atrás e ser pequenina para sempre. Tal como na história do Peter Pan. Estou num lugar que agora é só meu. Um lugar que já não conheço. Um lugar interdito. Aqui vivi os melhores anos da minha vida. Mas o aqui mudou. Antes as paredes e o chão eram apenas cimento. O teto era apenas telha. A única luz existente entrava por uma pequena janela. E eu tinha medo de aqui estar. Aqui, neste lugar só meu, eu fui feliz.

4 comentários:

  1. Simplesmente perfeito! Já sabes a minha opinião, agarra o teu talento da escrita porque transmites muitas emoções... Beijinhos

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  2. Quando somos novos tudo parece um conto de fadas! Tudo parece perfeito: sem responsabilidades e com montes de tempo para brincar e montes de amigos; não sabemos distinguir o bem do mal! É tudo tão bonito! Podemos ser tudo mesmo não sendo nada! Podemos ser génios mesmo sem saber nada! A época da ignorância em que pensamos que sabemos tudo mas não sabemos nada! Qual adolescência qual quê! A infância é o melhor das nossas vidas!!!

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  3. Adriana,

    Obrigada pelo elogio à cerca do meu suposto talento no que toca à escrita!

    Beijinhos!

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  4. Mariana,

    A infância foi sem dúvida a melhor parte da minha vida. Quem me dera poder reviver tudo outra vez!

    Beijinhos!

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