domingo, 8 de agosto de 2010

Eu Lembro-me

É de noite. Estou sentada num muro perto de uma falésia que vai dar à praia. Sentada no muro, enquanto bebo um granizado de kiwi, observo a multidão que passa. Sinto que estou invisível, que ninguém me vê, mas eu vejo todos. Passando o olhar por todas as pessoas, encontro um rapaz. Ele foi o único, para além da menina que estava aos gritos porque queria um gelado, que me despertou atenção. Porquê? Porque estava sentado, a fazer exactamente o mesmo que eu, a beber um granizado de kiwi e a observar a multidão. Ele também reparou em mim. E antes de eu poder ter reacção, ele já estava sentado junto a mim, no “meu”muro, do outro lado da estrada. «É bom não é?» disse ele. «O quê?» perguntei. «O granizado.» respondeu com uma risada. «Sim, é.» disse-lhe isto com ar de desprezo pela bebida. Ficamos a conversar durante umas 4 horas. Comentávamos as pessoas que passavam e as suas roupas. Riamos. Brincávamos. Tal como duas crianças. Era como se nos tivéssemos conhecido desde sempre. Sem nunca termos dito o nome um ao outro. «Bem, gostei de estar contigo… Madalena.». Fiquei incrédula quando ele disse o meu nome, como poderia ele saber? «Espera, como é que sabes o meu…» Antes de conseguir acabar a frase, ele já tinha ido embora. «Olhe, a menina desculpe, mas deixou cair um papel no chão.» Isto foi o que um completo estranho me disse. Apanhei o papel, e nele estava escrito «Sou o Gonçalo, lembras-te?». Depois de ler senti-me horrível. Como é que não me lembrei dele? Desculpa Gonçalo. Eu lembro-me de ti.

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