quarta-feira, 1 de abril de 2020

Velhas coisas com novos propósitos em tempo de isolamento

Vou começar desde já por admitir que não têm sido dias fáceis. Acredito que para vocês também esteja a ser uma altura muito complicada e que se tenham visto obrigados a fazer muitos ajustes na vossa vida e nas vossas cabeças. A minha cabeça ainda se está a ajustar e por isso talvez faça sentido eu voltar aqui de vez em quando para debitar umas coisinhas. Tenho pensado muito em como é engraçado a forma como os acontecimentos se desenrolam e como coisas que em dada altura foram concebidas para um propósito depois se adaptam e passam a adotar outro. A vida é muito isto ou não? Coisas que sofrem mutações ao longo do tempo e se encaixam exatamente onde viriam a fazer falta anos mais tarde. Talvez como muitos de vocês, eu tenho estado a trabalhar a partir de casa. Vou na terceira semana de teletrabalho e dou por mim 8h sentada à secretária do meu antigo escritório. Na altura partilhei aqui a criação do meu escritório e todo o seu propósito. Eu queria um espaço clean para poder estudar, estava na faculdade na altura, e um vão de escada foi o que se arranjou (muito Harry Potter da minha parte, claro). Estava longe de imaginar que perto de 5 anos depois ia estar sentada à mesma secretária, desta vez com o computador da empresa e uma panóplia de tralha que se foi acumulando com o tempo para um propósito diferente, em condições impostas pela conjuntura atual. Acho que a Madalena de 2015 sabia que aquele escritório ainda ia servir um papel maior, porque dizendo a verdade eu não passei imensas horas de estudo ali. Aliás, é bem possível que nestas 3 semanas tenha estado ali mais horas do que no tempo de faculdade, mas enfim. A questão aqui é vermos como a vida se encaixa até nas coisas mais banais e que muitas vezes tudo isto nos passa ao lado. Se na altura não me tivesse passado pela ideia montar um escritório, agora estaria com o computador do trabalho montado na secretária do meu quarto, que ia ficar uma confusão ainda maior e me ia impedir de "fechar" a zona de trabalho ao fim de cada dia. Não ia ser o fim do mundo claro, mas estou melhor assim. O dia de trabalho começa quando entro ali no meu cantinho e termina quando de lá saio e fecho a porta. Acreditem, este fechar de porta torna todo o processo mais simples e fácil de aceitar. Ainda nesta onda de coisas que ganharam um novo propósito, algo completamente diferente e ainda mais banal: a caixa de 50 lápis de cor que ofereci a mim mesma no Natal. Novamente, parece que a Madalena do passado sabia o que estava para chegar. Eu já era assumidamente a doida das pinturas e dos livros de colorir, então óbvio que quando naquela tarde fui à papelaria por qualquer razão desconhecida e vi aquela caixa de lápis, tive de comprar! Curioso ou não, era a última que tinham. A verdade é que claro que eu não precisava de mais lápis, os estojos e caixas que por aqui andam espalhadas estavam em perfeitas condições para o uso que lhes dava. Mas agora que estou mais tempo em casa acabo por recorrer imenso ao meu livro de colorir favorito e aos 50 lápis de cor que me estão a permitir fazer coisas giras e coloridas para combater os dias mais cinzentos (a treta do mindfulness vai que até não é assim tão treta). Por mais difícil que esteja a ser lidar com tudo o que se está a passar e que já se estava a passar antes de tudo isto não nos podemos esquecer somos sempre mais fortes do que aquilo que pensamos que somos. A vida vai melhorar. Vamos ficar bem 🙏