segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sou ou Estou Feliz?

Não sei se sou ou se estou feliz. 
Esta dúvida tem pairado na minha cabeça desde que fui estudar para Lisboa. 
Sou uma pessoa diferente do que era quando deixei o secundário, e para dizer a verdade, gosto muito mais de quem sou agora. Dou por mim a pensar como era insegura, como achava importante o que os outros pensavam de mim... Agora estou segura sobre quem sou e sei o que penso. Estou feliz com a mudança. Estou feliz no geral. A vida corre-me bem. Claro que existe muita coisa que sai fora dos carris de vez em quando, mas já não me vou abaixo como sei que ia há 2 ou 3 anos. Em vez de me ir abaixo sou capaz de impulsionar felicidade. Orgulha-me dizer que são poucos os momentos em que me sinto miserável e triste. 
Ainda assim, não sei se estou feliz agora porque a vida me está a correr bem, ou se sou uma pessoa verdadeiramente feliz. Talvez seja feliz... Quer dizer, porque não seria? Tenho uma família, uma casa, estou a estudar, tenho bons amigos, o dinheiro não é abundante, mas também não falta... Tenho condições para ser feliz, mas esta coisa entre estar e ser atormenta-me. 
Tenho medo desta felicidade que me percorre. Não quero ficar estupidamente agarrada a uma coisa efémera que mais tarde ou mais cedo se vai embora sem avisar. Chego a ficar aterrorizada com a ideia de me agarrar à felicidade que sinto agora e de mais tarde me vir a desiludir. Acho que estou a perder momentos fantásticos da minha vida por causa deste medo parvo. Acho que estou a deixar passar oportunidades para viver a minha vida ao máximo porque tenho medo de me desiludir com fantasias da minha cabeça. 

Não sei que mais me resta fazer. Quero viver os momentos todinhos, mas estou a deixá-los fugir e eles não vão voltar nunca. Estou a deixar a vida passar-me a frente dos olhos. Tenho medo. E é um medo aterrorizante!!!
Só me resta viver aos pouquinhos, um dia de cada vez, deixar andar, feliz, mas não demasiado...


Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, 
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento - 
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da de cadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

- Ricardo Reis -