sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Como?

Caminho entre a multidão e sinto que estou a mais, sabem? Como podem saber. Apesar de querer muito que pudessem saber como me sinto e as coisas que me acontecem, porque sinto falta de alguém que me perceba. Odeio quando me dizem: «percebo exactamente pelo que estás a passar» e «compreendo o teu sofrimento». A minha pergunta é Como? Como podem as pessoas saber pelo que estou a passar? Como podem compreender o meu sofrimento? As pessoas são egoístas, odeio-as. Está tudo mal. Tinhas mesmo de ir embora não é?! Tinhas de me deixar sozinha?! Eu precisava de ti. Agora Odeio-te. Odeio-te como odeio os outros, os reles e os insignificantes. Logo tu, eu gostava de ti sabias? Agora não. O Amor passou a Ódio. A pessoa Alegre passou a Triste. Tudo o que era Bom ficou Mau. E tudo porque tu decidis-te ser egoísta e ir embora. ODEIO-TE, a ti e ao Mundo.

domingo, 8 de agosto de 2010

Eu Lembro-me

É de noite. Estou sentada num muro perto de uma falésia que vai dar à praia. Sentada no muro, enquanto bebo um granizado de kiwi, observo a multidão que passa. Sinto que estou invisível, que ninguém me vê, mas eu vejo todos. Passando o olhar por todas as pessoas, encontro um rapaz. Ele foi o único, para além da menina que estava aos gritos porque queria um gelado, que me despertou atenção. Porquê? Porque estava sentado, a fazer exactamente o mesmo que eu, a beber um granizado de kiwi e a observar a multidão. Ele também reparou em mim. E antes de eu poder ter reacção, ele já estava sentado junto a mim, no “meu”muro, do outro lado da estrada. «É bom não é?» disse ele. «O quê?» perguntei. «O granizado.» respondeu com uma risada. «Sim, é.» disse-lhe isto com ar de desprezo pela bebida. Ficamos a conversar durante umas 4 horas. Comentávamos as pessoas que passavam e as suas roupas. Riamos. Brincávamos. Tal como duas crianças. Era como se nos tivéssemos conhecido desde sempre. Sem nunca termos dito o nome um ao outro. «Bem, gostei de estar contigo… Madalena.». Fiquei incrédula quando ele disse o meu nome, como poderia ele saber? «Espera, como é que sabes o meu…» Antes de conseguir acabar a frase, ele já tinha ido embora. «Olhe, a menina desculpe, mas deixou cair um papel no chão.» Isto foi o que um completo estranho me disse. Apanhei o papel, e nele estava escrito «Sou o Gonçalo, lembras-te?». Depois de ler senti-me horrível. Como é que não me lembrei dele? Desculpa Gonçalo. Eu lembro-me de ti.

Noite Passada

Levemente, o vento bate nas cortinas, provocando uma ligeira agitação. Ela ainda dorme, calmamente deitada no colchão que tinha sido colocado na sala, junto à janela. Lá fora, o dia já começou, e já se ouvem todos os barulhos dos carros, do vento e dos pássaros. Alguém mergulhou na piscina, provocando um barulho ensurdecedor que a faz acordar. Ela levanta-se sem grande pressa e vai em direcção à casa de banho. Depois de um curto e refrescante duche, ela pode finalmente pensar no que se passou na noite anterior. Vai até à varanda e senta-se no chão, encostada à parede com as pernas flectidas. O vento ficou mais forte e os pequenos pedaços de memória começam a surgir… Recorda um bar, o bar onde iam todas as sextas, ela e o resto do grupo. Ultimamente não iam lá, pois o grupo já não era tão unido. No entanto, ele tinha-lhe pedido para se encontrarem lá, só os dois. Lembra-se de gritar com ele «Esquece ok?! Vou-me embora.». Depois disso, só a imagem de um carro a ir contra ela. Levanta-se num sobressalto. Pega no telemóvel, «Uma mensagem recebida», abre e lê… «Lamento tudo o que aconteceu entre nós, e lamento não ter ficado aí contigo. Liga-me só para saber se estás bem… Ainda te Amo.» Ficou imóvel durante um tempo. «Não lhe vou ligar, mas devia. Devia dizer-lhe o que nunca mais tive coragem para dizer a ninguém…» pensou. Passou o dia a rejeitar as chamadas dele, pois sabia que se atendesse só ia conseguir dizer coisas que iam mudar tudo. Não podiam ficar juntos. E as palavras «Também te Amo» ficaram para sempre guardadas no seu pensamento.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O Escuro

A noite atravessa as paredes infestando o ar com escuridão. A luz não é capaz de travar a raiva que as sombras transportam. Cada vez mais rápido um rasto de medo e horror se propaga. Pequenos monstros passeiam por ali aterrorizando tudo e todos. Eles estão cada vez mais perto… O medo cresce… Já nem os lençóis da cama me protegem do mal. Só preciso de um acto de coragem, um simples click no interruptor e todos os monstros e sombras e até mesmo o medo desaparecerá...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Aqui neste lugar onde fui feliz

Estou um pouco mais longe do lugar onde costumo estar. Hoje tive vontade de vir para aqui. Aqui estou só. Só, mas ainda consigo ouvir o barulho que o jogo produz, enquanto está a ser jogado no quarto por baixo de mim. Estou na minha “torre”. No meu lugar. Lugar este onde ninguém vem. Lugar onde está tudo em “ruínas”, onde só eu consigo habitar. Lugar, que apesar de todos dizerem que não, vai ser sempre o meu mundo. Estou deitada no chão com a cabeça apoiada num velho colchão onde eu costumava dormir a sesta quando era mais nova. Oh memórias. Recordo as memórias que tenho deste lugar. Recordo as brincadeiras, os risos… todas as coisas que me lembrem o quanto era bom ser pequenina. Recordo também a maneira de como a avó me chamava para almoçar e a maneira como eu lhe pedia para me deixar ficar a brincar, porque aqui sim, aqui eu fui feliz. Estou agora no meio dos meus antigos brinquedos. Como era bom brincar com eles, inventar todas aquelas histórias, histórias como as que se liam nos livros. Livros que começam com «Era uma vez…» e que acabam com «E foram felizes para sempre.». Lembro-me das princesas serem felizes, lá a viver nos seus castelos. Eu queria tanto ser como elas. Agora sei que eram só histórias, mas antes, era tudo tão real. Estou a tentar que as memórias fiquem, por isso penso em tudo uma e outra vez. Encontrei o meu antigo cavalo de baloiço. Bons os momentos que passei a andar nele. Sempre gostei de cavalos. Lembro-me de ter uma égua. Lembro-me de ir montar para a serra com o meu pai. Mas um dia tudo isso se perdeu. Eu cresci e o meu pai vendeu os cavalos. Recordo o momento em que vi o cavalo mais novo nascer. Estava um dia lindo, e o cavalo nasceu no meio de um eclipse. Esse momento sei que não vou esquecer. Ainda assim, tenho medo. Estou completamente perdida aqui. Perdida no meio de álbuns de fotografias antigas. Fotografias de quando eu era pequena. Recordo todos os momentos fotografados na perfeição. Sei que não quero perder momento nenhum, mas tenho medo que o tempo passe depressa demais. Medo de não estar a viver tudo o que poderia estar a viver.
Estou a chorar. Não sei se sou capaz de aguentar tantas memórias e recordações em tão poucos minutos. Não quero crescer. Queria voltar atrás e ser pequenina para sempre. Tal como na história do Peter Pan. Estou num lugar que agora é só meu. Um lugar que já não conheço. Um lugar interdito. Aqui vivi os melhores anos da minha vida. Mas o aqui mudou. Antes as paredes e o chão eram apenas cimento. O teto era apenas telha. A única luz existente entrava por uma pequena janela. E eu tinha medo de aqui estar. Aqui, neste lugar só meu, eu fui feliz.