domingo, 2 de maio de 2021

Sobre as imposições da sociedade

Gostamos todos muito de dizer que as coisas estão melhores e que já não temos tantas imposições ou não nos sentimos tão pressionados. Pode ser que seja verdade, mas também é verdade que ainda há muita gente com o pensamento "antigo" e com muita vontade de mandar uma ou duas postas de pescada sobre a vida dos outros. A nossa vida é nossa e a nós pertence, que isto seja uma coisa que fique bem claro na cabeça de todos nós. Crescemos rodeados de pessoas que nos dizem quando é a idade certa para ter o primeiro namorado, para dar o primeiro beijo, para fazer sexo pela primeira vez... Se não fazemos estas coisas nos prazos ditos "normais" é sinal de que está algo de errado connosco. Durante muitos anos eu própria achei que estava algo de errado comigo porque não estava a viver as mesmas experiências ao mesmo tempo que as miúdas da minha idade. Lógico que nada de mal se passava (ou passa) comigo e mais tarde percebi que não existe um tempo certo para viver seja o que for. Ou melhor, o tempo certo existe, mas é algo diferente para cada pessoa, e está tudo bem e normal em ser assim. Somos todos pessoas diferentes, com vontades diferentes e tempos diferentes, ainda assim insistem durante toda a nossa vida em limitar as nossas vivências no tempo. Desde um bebé que não começou a falar quando era esperado a uma mulher que deu o primeiro beijo depois dos 20. Dizem-nos para aceitarmos as nossas diferenças, mas ninguém nos educa para aceitarmos o nosso tempo interno. O próximo passo esperado de uma relação amorosa com muitos anos é o casamento, e consequentemente, ter um filho, e depois do primeiro filho, ter o segundo. Nunca me vi numa situação destas, mas reconheço que deve ser difícil não ceder, não fazer o que esperam de nós. Se estivermos rodeados de gente que nos empurra para casar, é natural que o façamos, nem que seja porque nos é indiferente e assim fazemos a nossa mãe/tia/prima/vizinha feliz. Lamento dizer-vos, mas então isto não está a ser a concretização de uma vontade vossa. Deixaram-se empurrar para um desfecho que não estava nos vossos planos. Talvez até fosse uma vontade vossa casar/namorar/ter filhos, o que seja, algures no tempo, mas ao fazerem a vontade aos outros, não respeitaram o vosso timing. Já pararam para pensar nas consequências de decisões tomadas por um empurrão? Podem estar a dar um passo maior do que a perna, algo para o qual ainda não estavam preparados ou nem queriam! Não tem mal fazer as coisas "mais tarde" ou fora do tempo considerado "normal". Volto a dizer que o "normal" não existe. O que devia ser normal era sermos capazes de respeitar a nossa vontade no nosso próprio tempo, e não nos deixarmos pressionar, nem fazer pressão sobre os outros. Talvez se nos soubéssemos ouvir melhor, houvessem menos casamentos falhados e menos filhos com carência de amor dos pais. Tenho quase a certeza que em algum momento da vossa vida já sentiram que estão a ficar para trás, que já deviam ter atingido certo patamar na vida, eu sei que já senti. Peço-vos que olhem para vocês mesmos e façam um exercício que eu faço tantas vezes: o que é que EU quero? Respondam a esta pergunta com franqueza e não tenham medo de dizer às pessoas que vos rodeiam quais são as vossas vontades e objetivos. Não se deixem levar por arrasto em decisões tomadas por outras pessoas. Às vezes é uma mãe que quer muito que vocês se casem ou um marido que quer muito ser pai, e aceitamos, e seguimos por um caminho que não era o nosso só porque "não me faz assim tanta diferença" ou "era algo que ia querer eventualmente, porque não já?". Termos respeito e amor próprio passa por aceitar e compreender o que queremos e quando o queremos, nunca se esqueçam disso. Está certo que não é a postura mais confortável a tomar perante as pessoas que nos estão a tentar pressionar, mas é algo que nos vai poupar muita chatice e desgosto mais tarde na vida, tanto a nós como aos nossos parceiros ou a futuros filhos que possam surgir, que às tantas nem eram assim tão desejados, mas a mãe queria muito ser avó. Tenho a sorte de saber o que quero e de não ter gente à minha volta a pressionar-me para que faça o contrário. No entanto, também vos digo que há muita coisa que se afasta de nós por termos esta atitude (por alguns vista como radical) perante a vida. Mas bolas, é a nossa vida! E como digo tanta vez: o que é para nós, a nós vai chegar. Por isso não faz mal se o suposto amor da vossa vida vos deixou porque não queriam ser mães. Melhor terminar já do que haver um compromisso infeliz para alguma das partes mais tarde. Cuidem de vocês e mantenham bem firmes as vossas vontades. Tudo o resto logo há-de encaixar. Beijinhos e até já ❤️

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